IMPRIMA O ARTIGO

CASIMIRO E NITERÓI

Por vários motivos, entre 1857, quando ele volta da longa estada em Portugal, e 1860, ano de sua morte, a história e a obra de Casimiro têm muito a ver com a cidade de Niterói. Disso é que trata o texto a seguir.

Obra-prima de Rodolfo Bernardelli inaugurada a 4 de janeiro de 1914, a herma de Casimiro enriquece a Praça César Tinoco ─ a Pracinha do Ingá ─ em Niterói. Trata-se duma justa homenagem: não apenas ao maior ícone fluminense da poesia brasileira, como também ao romântico rapaz que, se sentindo em casa, transitava assiduamente pelas ruas da bela cidade.

Vários motivos o levavam até lá. O primeiro é que, após separar-se do pai do poeta, sua mãe se mudara para Niterói. O segundo, é que Antônio Francisco da Costa Cabral, seu patrão e protetor, costumava convidá-lo para fins de semana junto à sua família, formada pela esposa Adelaide, os meninos Horácio e Júlio, e a pequena Adelaide Augusta, a Yayá, que de tal modo encantava Casimiro, que lhe inspirou nada menos que 7 dos 71 poemas que compõem o livro Primaveras.

O terceiro motivo se chamava Joaquina Luísa da Silva Peixoto, de tradicional família residente em São Domingos. A moça, tia-trisavó de Tom Jobim, foi a derradeira paixão do poeta que, para vê-la, atravessava com frequência a baía de Guanabara. Dessas idas, resultou o pouco conhecido poema “Flores”, dos mais perfeitos e mais belos que ele fez.

Casimiro deixou inconclusa uma revista teatral, em que o Rio de Janeiro e três de seus bairros dialogam com Niterói. A certa altura, na voz do Rio, aparece esta mensagem de amor, provavelmente dirigida a Joaquina:

“Sou poeta, e posto que o poeta suspire sempre por uma pátria melhor que nunca encontrará e tenha n’alma alguma coisa de vago, de infantil a que chamam loucura, precisa contudo na terra, onde ele vive como um hóspede, encontrar um anjo (voltando-se para Niterói), uma mulher, uma imagem de virgem que lhe ampare a fronte ardente de delírios e a quem ele possa contar todos os sofrimentos do coração e todos os segredos da sua alma!”

Foi também nessa revista que, num rasgo de pioneirismo, Casimiro lançou a ideia de uma ponte que unisse as cidades do Rio e Niterói: “Agora mesmo; vim naquela monótona barca. Que coisa aborrecível! Para que não manda fazer uma ponte do Pharoux a S. Domingos, Papá?”. A ponte, não é preciso dizer, demorou mais de um século. E quando veio, veio noutro local. Mas veio.

(Texto da quarta capa do livro Casimiro de Abreu 150 anos de Primaveras, coedição da Academia Brasileira de Letras com Editora Nitpress, Niterói, 2009)

Rodolfo Bernardelli junto ao busto de Casimiro por ele esculpido. Arquivo do autor.

COMENTÁRIOS

1) Ao lado, foto de Rodolfo Bernardelli junto ao busto de Casimiro por ele esculpido. Trata-se de um cartão postal, em cujo verso há uma data, “6/12/913”, dando a entender que a foto foi feita pouco tempo antes da inauguração do busto em Niterói no dia 4 de janeiro de 1914. Foto de autor desconhecido. (Acervo Mário Alves de Oliveira)

2) Reproduzimos, na íntegra, a matéria publicada em 19 de setembro de 2021 por Gilson Monteiro em sua coluna “Niterói de verdade” (colunadogilson.com):

“Cadê o busto do Casimiro de Abreu que estava na Praça César Tinoco, no Ingá, Niterói? Ninguém sabe, ninguém viu. Há pelo menos cinco anos, o monumento em homenagem ao poeta mais popular do Romantismo brasileiro, vinha sendo furtado. Primeiro, levaram os ornamentos em bronze que envolviam o pedestal de granito, depois as letras da placa e, por fim, o busto inteiro desapareceu.

Casimiro de Abreu, conhecido como o Poeta da Infância, falecido em 1860, aos 21 anos, em 1914 foi homenageado em Niterói com a inauguração de um busto na praça do Ingá. Até 2016, a peça de bronze ainda estava lá, meio maltratada, como mostrou na época o jornal O Globo. Em 2019, a praça foi fechada e virou canteiro de obras. E agora ninguém sabe o que aconteceu com o Casimiro dos versos “Oh! que saudades que tenho / Da aurora da minha vida, / Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais!

3) A placa continha informações equivocadas, pois dava Casimiro como nascido em 1837 em Capivari, hoje Silva Jardim (RJ). Acrescente-se que no dia da inauguração, Escragnolle Doria, um dos autores que mais se dedicaram à divulgação da vida do imortal poeta, publicou no Jornal do Commercio um artigo intitulado “Casimiro de Abreu”, onde este ainda é dado como nascido em 1837.

4) No prédio da Academia Brasileira de Letras há um exemplar do mesmo busto.

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O busco de Casimiro desaparece da Praça César Tinoco, Ingá, Niterói (RJ). Fotos de Gilson Monteiro.