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Casimiro de Abreu, biografia de Casimiro de Abreu, Nilo Bruzzi

UMA BIOGRAFIA POLÊMICA MAS FUNDAMENTAL

Nilo Bruzzi não foi feliz ao biografar o autor de Primaveras. Seu livro Casimiro de Abreu provocou um terremoto nos meios literários do país, mas teve o enorme mérito de reavivar os estudos sobre o seu biografado.

Nilo (de Freitas) Bruzzi, advogado, escritor e jornalista, nasceu em Rio Pomba (MG) em 21 de novembro de 1897, e morreu no Rio de Janeiro em 28 de fevereiro de 1976. Deixou obras de gêneros diversos (poesia, romance e ensaio) como A fonte da beleza, Poesias, Júlio Salusse, o último Petrarca, e a polêmica biografia de Casimiro, cujos capítulos foram publicados inicialmente pelas páginas do Jornal do Commercio durante os meses de março a maio de 1949.

Só depois disso, pela Editora Aurora, é que Casimiro de Abreu saiu em forma de livro, cuja impressão ficou pronta em dezembro daquele ano. Graças aos inúmeros contestadores que a obra havia produzido desde a sua divulgação em capítulos, o livro chegou às livrarias em meio a uma acirrada controvérsia que, pela imprensa, havia-se estabelecido entre Bruzzi e os admiradores do poeta.

Tendo à frente Carlos Maul, Lacerda Nogueira, Henrique Lagden e Alberto Torres, inconformados com retrato duramente negativo que Bruzzi traçara do autor de Primaveras, a Academia Fluminense de Letras decretou uma guerra sem tréguas ao escritor mineiro, lançando-se à missão de destruí-lo. Passados alguns anos, desaparecidos os efeitos do terremoto que o livro provocara, Bruzzi publicou em 1957, pela mesma editora, uma segunda edição da obra. Trazia um apêndice e um prefácio do autor, que diz a certa altura: “Não digo que esteja melhor ou pior do que a primeira. Digo, apenas, que está como eu desejo que esteja, e como a quero definitivamente”.

Decorridos mais de 70 anos dessa fase belicosa, julgamos oportuno dizer algumas palavras em defesa de Nilo Bruzzi, escritor brilhante e talentoso, o que não pôde impedi-lo de se revelar imprudente, infeliz e falho como biógrafo. Devemos dizer, porém, a seu favor, que embora trabalhasse com grandes limitações, quando não dispúnhamos de boas estradas e serviço telefônico de qualidade, quando ainda não havia xerox, máquina fotográfica digital, computador, internet, e todos os recursos com que contamos agora, mesmo assim, com tamanhas dificuldades, Nilo Bruzzi não esmoreceu, não se limitou a repetir o que já se sabia a respeito do poeta. Obstinado, foi às fontes primárias, a cartórios e fazendas, arruinando nas estradas fluminenses o carro da família. Dele se pode dizer até que se imolou em prol de Casimiro, pois embora equivocado e demolidor, o seu livro acabou por renovar o interesse em torno do poeta, levando à descoberta e publicação de uma grande e variada quantidade de material biográfico, que embora protegido (daí ter sido achado), corria o risco de se perder por incúria, ou pela ação do tempo e do clima.

Deve ser dito também que os duros (e quase sempre falsos) ataques de Nilo Bruzzi eram dirigidos ao comportamento de Casimiro como ser humano, e não ao poeta, que ele admirava apaixonadamente, como se depreende deste trecho da página 180 da primeira edição do seu livro, onde ele fala das muitas edições de Primaveras:

“Até 1940 oitenta e duas edições tinham sido lançadas e esgotadas. Não se falando das clandestinas, nas dos cordéis, nas antologias, nos livros escolares, nos jornaizinhos do interior, o que tudo soma para mais de um milhão de exemplares. Não há exemplo no mundo de um livro de versos de um menino que viveu vinte e um anos apenas alcançar tão grande circulação, como nunca ninguém escreveu tão inspiradamente poemas que são instantâneos eternos da vida de todas as criaturas que foram crianças e que foram jovens, num país onde os sabiás cantam nas laranjeiras, onde as juritis suspiram no bulir do mato e onde a alma da gente é triste como a rola aflita…”

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