Importantíssima na biografia de Casimiro, esta carta desfaz a lenda de que, a pedido do poeta, seu pai, antes de morrer, teria se casado com Luísa, com quem vivera em concubinato. Só seis dias depois ela soube da morte de José Joaquim.
“Meu Filho
Niterói 24 de abril de 60
Fazes (sic) aidéa (sic) como estarei com a notícia do falecimento de vosso pai foi sem igual a minha dor e sentimento e muito sentida estou por você não me mandar buscar ou notícias de lá visto teu pai estar em perigo de vida eu não mandei o Felipe em razão de não ter dinheiro pois infelizmente o Domingos adoeceu e mandei para o hospital da saúde em S. Domingos e por esse motivo me vi privada de lá mandar, muito tenho estranhado o silêncio teu e de todos de lá porque se não fosse o Sr. Capitão José Leandro é quem me veio ontem 23 me dar essa infeliz notícia mandei saber da casa do Sr. Cabral ele me teve a bondade de me mandar o portador desta para eu ter um portador seguro para te escrever saber de Você o que pretendes (sic) fazer; manda-me dizer se tens de te demorar mais de quinze dias pois eu estou aflita para me ver daqui fora, assim manda-me buscar, condução para mim e 4 animais para carga e quem me acompanhe pois já não posso aqui estar, manda-me dizer tudo por escrito para meu governo
Aceita a bênção de
Tua Mãe que muito te estima
Luísa Joaquina das Neves”
1) Desnecessário ressaltar o valor desta carta para a biografia de Casimiro. Ela desfaz a lenda de que, antes de morrer, a pedido de Casimiro, José Joaquim teria se casado com Luísa, com quem vivera em concubinato. Como o texto mostra, ela só soube da morte do companheiro no dia 23, quase uma semana após a ocorrência, graças à informação que lhe foi dada pelo Capitão José Leandro, um velho amigo e vizinho de Capivari, hoje Silva Jardim (RJ).
2) Contrariando o que diz Nilo Bruzzi em Casimiro de Abreu (Editora Aurora, Rio de Janeiro, 2a ed., 1957), sou de opinião que Luísa não foi viver com outro homem, após afastar-se de José Joaquim. Pode-se notar o tom de tristeza que demonstra pela morte deste. E percebe-se que, se lhe tivesse sido dada a oportunidade, teria ido em seu socorro ao sabê-lo em “perigo de vida”. Além disso, ela põe luto pela morte do antigo companheiro, coisa que dificilmente faria se estivesse envolvida com outro. E há também a carta de Costa Cabral a Casimiro que será analisada mais tarde. Por ela, se vê que não havia outro homem na história.
3) Entendo assim o que Luísa diz ao filho. Que só foi possível mandar-lhe a presente carta, porque Costa Cabral lhe oferecera um portador. Do contrário, não poderia fazê-lo. Primeiro, porque não tinha dinheiro para mandar o Felipe, que seria talvez um portador pago. Segundo, porque o escravo de que dispunha, o Domingos, adoecera e se achava internado. Quanto ao hospital a que ela se refere, suponho fosse a “Casa de Saúde de São Sebastião, em São Domingos de Niterói”, citada na página amarela no 9 do Almanack Laemmert de 1859, e que se situava defronte à Ponte das Barcas. Dirigida pelo Dr. Epifânio Astudillo y Bumsoms, oferecia “quartos particulares com todo asseio e comodidade” a 5.000 réis a diária, e enfermarias a 2.500 réis. Dispunha também de enfermarias para escravos. Quanto ao atendimento dos pobres, era grátis.
4) Penso que, na data da carta, o “de 60” em lugar de “de 1860”, mostra sofisticação de raciocínio. Luísa escrevia mal, mas pensava bem, era inteligente. Aliás, fiz uma leve maquilagem no texto, apenas o suficiente para facilitar a leitura. Deixei, porém, alguns erros de grafia, para mostrar as limitações de Luísa ao escrever. O leitor poderá fazer a comparação pela foto da carta, aqui reproduzida.
Se você tem ou teve parentes em Porto das Caixas, Itaboraí, Cantagalo ou Cordeiro (RJ), se seu bisavô e bisavó se chamavam Francisco e Modesta, ou se seu avô e avó se chamavam Américo e Florinda, por favor, entre em contato conosco.
Se você tem alguma informação sobre eles, por favor, entre em contato conosco. O primeiro, contém o batismo de Casimiro; o segundo, os óbitos dele, de seu pai, de seu tio Claudino, e talvez o do padre Luiz Francisco de Freitas, que batizou o poeta.