Casimiro era um mestre em criar imagens e cascatas de sons, como se pode constatar pelo magistral poema “Flores” que se vai ler a seguir. Nele, há versos que nos parecem música, outros nos remetem à fotografia, e outros ainda, cheios de dinamismo, nos levam a pensar em cinema.
No álbum de * * *
Enquanto a barca corre na corrente quieta
E da veia rasgada salta a branca espuma,
Na popa, o remador, que Deus fadou poeta,
Desfolha de algum ramo as folhas uma a uma.
E canta o preguiçoso, e as folhas vão boiando…
Talvez que a branca mão de uma criança as colha.
Mas onde? em que lugar? de que maneira? quando?
Assim deixo o meu nome escrito nesta folha.
Eu sou o gondoleiro a suspirar de amores,
Por noites de luar a me lembrar da vida;
O tempo é a corrente, os versos são as flores;
Bendita a mão que as guarde e que lhes dê guarida!
Janeiro ─ 1860.
Poucas vezes em língua portuguesa, como neste poema, um poeta terá sido tão feliz ao juntar a musicalidade e a plasticidade às ideias. Lidos em voz alta, seus dois primeiros versos nos dão a impressão perfeita de uma barca a deslizar entre as ondas. E pensar que esta joia foi deixada num álbum, que poderia ter-se perdido, e que permaneceu incógnita por mais de 20 anos! Só veio à luz em 1883, quando se publicaram as Obras Completas de Casimiro, organizadas pelo Dr. Joaquim José de Carvalho Filho. Além dos trabalhos conhecidos do poeta, a edição trazia 12 inéditos, entre os quais este poema.
No século dezenove, Niterói era uma espécie de refúgio para muitos cidadãos que trabalhavam no Rio, mas preferiam morar no outro lado da baía, menos abafado, menos sujeito à febre amarela. Daí que a travessia de barca fosse quase uma rotina para muitos fluminenses, como Casimiro, que ia a Niterói com frequência, não só para passar os fins de semana na casa de seu patrão Antônio Francisco da Costa Cabral, como também para visitar a própria mãe, e ver a namorada, Joaquina Luísa da Silva Peixoto, a Quinquina, residente em São Domingos, e provável inspiradora destes versos primorosos. Vale acrescentar que ela era tia-trisavó de Tom Jobim.
(Casimiro de Abreu – Obra Completa, coedição ABL – G. Ermakoff Casa Editorial, 2010)
A poesia de Casimiro é rica em sonoridades. Talvez esteja nisso a razão de muitos compositores se sentirem motivados a musicar seus poemas, como ocorreu com o nosso amigo Vasco M. N. Pereira, maestro, professor e compositor de Campo Maior, Portugal. Fundador da Orquestra Luso-Espanhola e da Camerata Ibérica, ele converteu em canções quatro poemas de Casimiro: ― “O que é simpatia”, “Flores”, “Eu fui como a folha verde” e “Tua voz”. De “Flores”, que pela primeira vez é musicado, damos o “demo”, para que o ouçam em gravação eletrônica.
Se você tem ou teve parentes em Porto das Caixas, Itaboraí, Cantagalo ou Cordeiro (RJ), se seu bisavô e bisavó se chamavam Francisco e Modesta, ou se seu avô e avó se chamavam Américo e Florinda, por favor, entre em contato conosco.
Se você tem alguma informação sobre eles, por favor, entre em contato conosco. O primeiro, contém o batismo de Casimiro; o segundo, os óbitos dele, de seu pai, de seu tio Claudino, e talvez o do padre Luiz Francisco de Freitas, que batizou o poeta.