Neste artigo, com base em documentos inéditos, o autor revela as origens da “Casa de Casimiro de Abreu”, conhecida como local de nascimento do grande poeta, e relembra a história dessa relíquia arquitetônica dos primeiros anos da nossa independência.
O bisavô paterno de Casimiro, Boaventura José Marques, teve com sua esposa Teresa Maria Francisca de Abreu, duas filhas e quatro filhos. Destes, dois nos interessam de maneira especial: José Marques de Abreu, por ter sido dos primeiros, se não o primeiro da família a vir para o Brasil, e Manoel Marques de Abreu, não só por ser o avô paterno do poeta, mas por ter tido quatro filhos que aqui viveram: José Joaquim, Francisco José, Claudino Antônio e Manoel José, dois dos quais morreram e foram sepultados em Barra de São João (RJ): José Joaquim, o pai de Casimiro, e Claudino Antônio.
José Marques de Abreu, que apontamos como provável pioneiro, nasceu em 17 de abril de 1778 em Vila Nova de Famalicão, e aparece em documentos aqui transcritos. Por um deles, de “30 de Maio de 1828”, depreende-se que ele já se achava havia tempos no norte fluminense. Ali, em algum momento anterior àquela data, ele adquire ou arremata um terreno de dez braças (22 metros) de frente para a Rua do Armazém, no arraial de Barra de São João, onde morava. Tendo obtido da Câmara Municipal de Macaé autorização para cercá-lo, ele o divide em cinco lotes iguais de dez braças, e os vende a duas senhoras, Joanna Francisca do Amor Divino Pereira e Marianna de Magalhães, e a três cavalheiros, o Capitão Fructuoso José Ribeiro, José Maria do Amaral, e José Joaquim Marques de Abreu (seu sobrinho e futuro pai de Casimiro), a quem teriam tocado as “dez braças com o Armazém na margem do Rio de São João.”
Temos aí, ainda que resumidos, os primórdios da “Casa de Casimiro de Abreu”, o quase bicentenário imóvel construído em Barra de São João, quando a cidade de hoje era um simples arraial. Para trazê-los à luz, foi preciso ter à mão os documentos incluídos no final deste artigo, postos à nossa disposição pela Senhora Alzira Rosa Santos Gavinho Thomaz, através de seu sobrinho Vilcson Matteus dos Santos Gavinho, nosso amigo e generoso colaborador.1
São quatro documentos, sendo os três primeiros de anos próximos ao da nossa Independência,1822, e o último, uma “Declaração Pública de Doação de Bens”, de 1889, ano da nossa República. E é por este que vamos começar. Não só por ser aquele que explica os três outros, mas por querermos transcrever umas palavras de um dos três cavalheiros ali citados, o Capitão Fructuoso.
Dele, que tinha o título de Capitão por pertencer ao Corpo de Ordenanças de Macaé, diremos que em 6 de novembro de 1830, no Rio de Janeiro, ao solicitar sua matrícula como Negociante na Imperial Junta de Comércio, anexou um documento de dois anos antes (de “5 de Dezembro de 1828”), que reproduzimos quase integralmente, destacando em negrito a frase que queremos comentar:
“Diz o Capitão Fructuoso José Ribeiro, domiciliado no Arraial da Barra de S. João, que a prol de sua Justiça quer justificar os seguintes artigos: Que o Suplicante é um cidadão estabelecido e negociante de grosso trato de importação e exportações para de barra em fora, sendo seu giro de comércio de mais de quarenta contos de Réis, e seu estabelecimento fixo de dúplice quantidade. Que é dono e interessado em parte de um trapiche ali erecto e assim de duas sumacas e uma meia parte de outra sumaca com sócio e companhia, cujas embarcações navegam daquele para diferentes portos, sendo as duas em todo próprias denominadas Flor da Barra e Espírito Santo e é interessado com o Comendador José Bernardes Monteiro na denominada Bom Sucesso. Que é consignatário de diversos Correspondentes de muitas outras embarcações, como de seus carregamentos. Que é possuidor legítimo de duas Fazendas, uma de agricultura e outra de engenho no Rio Dourado. Que vive a Lei da nobreza com reconhecido crédito.”2
Ora, se em dezembro de 1828 o capitão se refere ao trapiche como “erecto”, significa que o ergueram naquele ano que estava a findar, ou que a sua construção se achava de tal modo adiantada, que já podia ser dada por pronta. Aliás, quem conhece a “Casa de Casimiro”, sabe que, com mão de obra escrava e farta, seria possível levantar-se em um ano um prédio como aquele, que embora tenha sim sua beleza, impressiona mais por suas dimensões que por questões de estilo. Ali, quase que bastavam braços e tábuas, pedras, tijolos e telhas. Sobretudo se considerarmos, como está implícito, que o armazém já existia ao dar-se início às obras do trapiche, o que explica o fato de a via defronte ser conhecida como “Rua do Armazém”.
Aqui, há uma pergunta que se impõe. Afinal de contas, quem era, ou quem veio a tornar-se de fato o dono das “dez braças com o Armazém na margem do Rio de São João”, que aparecem na “Declaração pública de doação de bens” como tendo sido destinadas “ao finado senhor José Joaquim Marques de Abreu”?
Trata-se de um ponto que, a rigor, não deveria suscitar qualquer dúvida, já que a declaração foi feita em cartório. Mas levamos em conta que ela foi lavrada em no mínimo 60 anos após o loteamento efetuado por José Marques de Abreu, quando não só ele, mas todos os compradores dos lotes já tinham morrido. Nesse meio tempo (entre 1828 e 1889), Casimiro havia nascido (em 1839), publicado um belo livro, Primaveras, e morrido precocemente em 1860. Não tardaria a tornar-se um nome famoso e cultuado pelo povo brasileiro, levando a que os moradores de Barra de São João, sabedores de que o pai do poeta tivera um armazém nos fundos do trapiche, acabassem por alimentar e divulgar tal fato, nele incluindo, com justo orgulho, a afirmação de que Casimiro havia nascido naquele local.
Diante disso, em abril de 1889, ao se assinar em Carapebus o documento de doação de bens, e ainda que nele se faça menção a “procurações e escrituras apresentadas”, é bem possível que o nome de José Joaquim tenha sido evocado naquele clima de orgulho que acabamos de citar, sem que se questionasse, por prescindível, se seria ele o verdadeiro dono do chão e do prédio do armazém.
Sabemos que ao falecer em 17 de abril de 1860, o pai de Casimiro deixou muitas terras e vários imóveis na freguesia da Sagrada Família, onde viveu e atuou por mais de 15 anos. Sabemos, porém, que dentro da Vila de Barra de São João, deixou somente o que aparece no arrolamento de seus bens realizado na Fazenda do Indaiaçu em 26 de outubro daquele ano, onde é descrito e avaliado como “Uma morada de casas na Vila da Barra de S. João e seus terrenos por 3:000$000”, imóvel que, na partilha de bens, ficou para Albina, a irmã mais nova de Casimiro.
O ano de 1860 foi trágico para os Marques de Abreu. Em 24 de maio, 37 dias após o sepultamento de José Joaquim, deu-se a morte de seu irmão Claudino Antônio e, em seguida, a da do próprio Casimiro em 18 de outubro. Com isso, Francisco José, que àquela altura vivia em Portugal, não tardou a vir ao Brasil para acertar as pendências decorrentes de tamanhos imprevistos, e cuidar dos interesses da família. Afinal, era o único sobrevivente dos quatro irmãos que aqui haviam vivido e trabalhado, sem falar que, em 1855, ao casar-se em Lisboa com sua sobrinha Maria Joaquina, tornara-se genro de José Joaquim.
Nos cinco meses e pouco que aqui ficou (chegou em 2 de janeiro de 1861 e partiu em 8 de junho), dedicou-se a agilizar o inventário do irmão, que só veio a ser concluído em 18 de junho de 1862. Ele voltou então para uma segunda e breve estada, chegando ao Rio em 3 de setembro de 1863, e voltando para Lisboa em 8 de novembro. Nesses dois meses, além de zerar os débitos e créditos que havia, vendeu o restante dos bens que ele e sua sobrinha-e-esposa Maria Joaquina, e sua sobrinha-e-cunhada Albina Teresa ainda tinham por aqui, inclusive a casa de Barra de São João que aparece no inventário.
Há boas informações sobre essa casa em cartas datadas de 18, 19 e 23 de junho de 1846, enviadas do Rio de Janeiro para Barra de São João. Nelas, José Joaquim orienta Francisco José sobre algumas providências a serem tomadas no referido imóvel, que iria abrigar a família de seu protetor financeiro, o riquíssimo Manoel Pereira, àquela época às voltas com a compra da Fazenda do Angelim em terras de Cabo Frio, não muito longe da histórica Fazenda Campos Novos. Tratava-se de bem receber um grupo de pessoas acostumadas aos requintes da Corte. Vejam a parte final da primeira carta, e logo em seguida, a íntegra da segunda:
“O Sr. Manoel Pereira e sua família pretende seguir para essa na Sumaca 18 de Março e creio irá morar em nossa Casa como é de costume, mas ou vá ou não, torna-se necessário que estejamos prevenidos, por isso sem perda de tempo manda consertar o fogão e fulminé (sic = chaminé) e o mais que preciso for, lavar, caiar, pintar a Casa o melhor que puderes com os recursos que por aí houverem porque é provável que não chegue a tempo o Óleo, tintas e papel que pretendo mandar pelos próximos Barcos. Em Casa há Cola e gesso, ou alvaiade, na gaveta da mesa no quarto creio que há um pouco de vermelhão, o Mafra dizer algumas cousas, o resto pedirás ou comprarás a quem tiver. Sr. Sá Pinto há de ter algumas tintas que não terá dúvida emprestar e mesmo coadjuvar-te porque isso lhe peço na Carta inclusa. Mandarás também ao Marceneiro arranjar as abas da mesa de jantar que estão despregadas, e providenciarás algumas coisas mais que julgares necessárias. Eu pouco mesmo tenho a fazer no Rio de Janeiro e pretendo breve seguir para fora. Sem mais a dizer-te, sou com estima, Teu Irmão e amigo, José Joaquim Marques d’Abreu.”3
“Francisco ‒ Rio de Janeiro 19 de junho de 1846 ‒ Confirmo a minha última em data de Ontem pelo Correio e acrescento que pelo Patacho Fluminense remeto o que consta da nota abaixo que estimarei chegue a tempo de poder-se arranjar a Casa, do contrário ficará o forro de papel para outra ocasião. Se porém se forrar, vê que não botem o papel a perder e mesmo reparar que a conta designa qual o papel para a Sala, para a alcova e gabinete e que antes de se principiar a forrar se deve ver se chega e serve porque o que não chegar e servir, voltando direito troca-se por outro. Estando a Casa arranjada, arma as duas marquesas que remeto na Sala de dentro. Sou com estima ‒ Teu Irmão e amigo ‒ José Joaquim Marques d’Abreu.
N.B ‒ No caso de aí não haver quem bem saiba botar o papel, lembro-te que o Cadete em Macaé tem para isso bastante habilidade e se o mandares chamar, ele vem imediatamente e creio será o melhor, já pela perfeição da obra, já pela pressa com que se deseja e se precisa pronta. Para as almofadas manda fazer fronhas de morim ou qualquer fazenda, manda também reformar a cerca do quintal com refugo que tiver o João Manoel e se ele não chegar, compra o que faltar.4
Nota ‒ 1 Caixa de pinho com o papel constante da conta junta e mais uma campainha; 2 Livros em branco, 2 volumes do Advogado do povo, e um outro Livro; 1 Lata com 56 u de Óleo; 1 Barril com gesso e mais coisas constantes da conta junta; 2 Marquesas; 2 Colchões; 4 Travesseiros de paina; 6 Almofadas de paina; 1 Retrete com bacia”
A ida de Pereira volta à baila no início da terceira carta: “Francisco – Rio de Janeiro 23 de junho 1846 – Confirmo as minhas últimas em 18 do corrente pelo Correio e em 19 pelo Patacho Fluminense que estimo chegassem em pequena viagem a fim de haver tempo de aprontar o que neles te recomendava pois que o Sr. Manoel Pereira e sua família seguem para essa logo depois do S. Pedro e eu também hei de seguir na mesma ocasião quando não siga antes.”
Dominado pela ideia de receber condignamente as visitas, José Joaquim escreve uma vez mais ao irmão no dia 28: “Hoje sigo para essa na Sumaca “Elisa” com o José Guimarães e o Luiz Augusto e amanhã segue o Sr. Manoel Pereira com sua família na sumaca “18 de Março”. Bem desejo achar a Caza arranjada apesar de que conheço ser pouco o tempo decorrido para isso.”
De fato, José Joaquim deixou o Rio de Janeiro no dia 29, na sumaca “Elisa”, acompanhado dos amigos que citara. Deve, portanto, ter tido tempo de receber pessoalmente os visitantes, que partiram no dia seguinte na sumaca “Dezoito de março”, de 84 toneladas, propriedade do próprio Manoel Pereira, e que tinha Felipe Esteves de Carvalho por mestre contratado.
Voltemos à carta de 19 de junho. A frase ‒ “manda também reformar a cerca do quintal” que se vê no “note bem” ou post scriptum, deixa claro que a residência em questão tinha quintal, o que descarta a possibilidade de tratar-se do armazém do trapiche. É sabido que a palavra “quintal” remete quase sempre à parte detrás das casas, que no caso do armazém era o rio São João. Na frente e nos lados, nada havia que admitisse uma cerca, já que juntos, trapiche e armazém ocupavam a totalidade do terreno. Além disso, convenhamos, não faria sentido aplicar papel de parede em residência que estivesse colada a um armazém. Não; definitivamente, a casa de morada dos Marques de Abreu em Barra de São João era outra que não o antigo armazém, demolido quando das obras de restauração ali realizadas.
Das orientações ao irmão, vê-se que o pai do poeta não estava a falar duma casa de pequenas dimensões, posto que tinha quarto de casal (alcova), duas salas, cozinha e sala de banho (gabinete). Quando ordena a Francisco José que arme as marquesas na sala de dentro, nos leva pensar que, além do quarto citado, houvesse um segundo, já munido de camas, e que as marquesas na sala fossem uma solução achada para receber um número de visitantes que a casa não comportava. Afinal, Manoel Pereira e sua mulher Delfina Alves Curvelo tinham um filho e três filhas, todos menores àquela altura: José (futuro dono da Fazenda do Indaiaçu após a morte de José Joaquim), Delfina, Júlia (futura Baronesa de Catumby), e Maria.
Pode-se, por outro lado, e acima de tudo, observar que se tratava duma casa pouco usada, ou usada só por homens. O fogão está com defeito, a mesa de jantar com as abas despregadas, tudo por limpar, consertar e pintar, enfim, uma casa negligenciada, habitada apenas por Francisco José ou por José Joaquim, segundo a necessidade de um dos dois permanecer em Barra de São João para que o outro pudesse dali se afastar.
Já tínhamos falado dessa casa em “Paisagens infantis de Casimiro”, artigo que usamos como introdução ao nosso livro Casimiro de Abreu-Correspondência completa, publicado em 2007 pela Academia Brasileira de Letras. Nele, falamos também que de 1844 a janeiro de 1856, o pai do poeta foi dono de uma olaria junto a Barra de São João, mas não no lado em que esta se encontra, lado esquerdo do rio, em terras àquela altura pertencentes a Macaé, e sim no lado oposto, no lugar conhecido como Gargoá, no atual distrito de Tamoios, em terras que ainda hoje são parte do município de Cabo Frio (RJ).5
Vejam, a propósito, dois trechos de cartas trocadas entre os irmãos Marques de Abreu. Na primeira, de 27 de fevereiro de 1844, do Rio para Barra de São João, José Joaquim diz a Francisco José: “Hás de mandar pela Sumaca 18 de Março na presente viagem 200 Telhas de minha Olaria ao Guimarães,6 o que é para uma apicolação”. Na segunda, de 30 de agosto de 1845, de Barra para o Rio, José Joaquim dá instruções ao irmão: “… igualmente falarás com o amigo e Sr. Teixeira, e vê se ele pode fazer com que o Oleiro venha com brevidade.”
Outras informações sobre a citada olaria podem ser vistas no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, no verso da 10ª folha do 15º livro destinado ao registro de terras da Freguesia de Nossa Senhora da Assunção de Cabo Frio, onde têm o no 38. Vê-se por ali, que além da olaria, a propriedade incluía casas, horta, pomar, o que talvez explique a menção a um certo “sítio”, feita por José Joaquim noutra carta que, da Corte para Barra de São João, envia em 18 de junho de 1846 a Francisco José: “Tenho encontrado um Ilhéu Mestre Oleiro de telha e tijolos de todas as qualidades o qual há de seguir nos próximos Barcos e creio também servirá para administrar o sítio.”
A existência dessa olaria na lista de atividades com que José Joaquim se envolveu “nos anos 40 e 50 do século 19”, nos leva a supor que ela pudesse ter pertencido anteriormente a seu tio José Marques de Abreu, e por ele empregada na construção do trapiche. De qualquer modo, é quase certo que muitas das casas e sobrados ainda existentes em Barra de São João tenham sido levantados com material dessa antiga olaria, que pertenceu ao pai de Casimiro até pelo menos 27 de janeiro de 1856, data em que o administrador da mesma, Jacinto Soares de Abreu, fez dela a declaração exigida pela lei.
Voltando agora a falar do prédio do armazém, temos a dizer que nunca vimos qualquer documento que o desse como propriedade de José Joaquim. Se ele o comprou ao tio, vendeu-o em seguida, ou tempos depois. Foi na condição de inquilino que ele teve ali a sua casa comercial, desde algum dos “anos 1830” até o segundo semestre de 1844. Basta ver este anúncio que aparece na quarta página do Diário do Rio de Janeiro de 24 de janeiro de 1845, e no dia seguinte, também na quarta página, desta vez no Jornal do Commercio:
“Aluga-se na Barra de S. João um grande armazém com capacidade para negócio de secos e molhados, com porto de desembarque, o qual esteve arrendado ao Sr. José Joaquim Marques de Abreu; quem o quiser arrendar pode tratar com seu proprietário o Sr. capitão Manuel Pinto Coelho, na vila de Capivary”.
Tivemos a sorte de achar no Cartório de Adenesil Miranda da Mota, em Silva Jardim (RJ), antiga Capivari, um livro do Primeiro Ofício, em cujas folhas 116-v a 118, há uma escritura que explica esse anúncio. Por ela, lavrada em 1º de outubro de 1860, fica-se sabendo que “o Capitão Manoel Pinto Coelho e sua mulher Maria Cândida da Silveira, moradores na Serra do Meio, vendem por Rs.2:000$000 (dois contos de réis) ao Major Francisco Leite de Brito, morador na Ilhota, duas quintas partes de um armazém em Barra de São João, recebidas por herança de seu finado irmão e cunhado Francisco Pinto Coelho.”
Juntando o anúncio à escritura, cremos ver confirmada uma velha suposição nossa, a de que o “dono”7 do trapiche fosse Antônio Ribeiro Basto, de quem Manoel (Ferreira) Pinto Coelho seria gerente ou sócio minoritário. Girando sob a firma “Basto & Filhos”, proprietário dos barcos Três Irmãos, Oliveira, Temerário e Josephina para transporte de carga e passageiros, o poderoso Basto foi um dos quatro cidadãos que custearam as magníficas homenagens prestadas ao imperador D. Pedro II, quando este, com pouco mais de 21 anos de idade, visitou Barra de São João, e ali pernoitou de 23 para 24 de abril de 1847.
Duas cartas enviadas de Barra de São João para o Rio de Janeiro deixam à mostra o poder de Manoel Pinto Coelho na vida do trapiche. Na primeira, de 1º de fevereiro de 1843, o pai de Casimiro escreve ao irmão Francisco José e comenta a certa altura: “A Sumaca Três Irmãos está carregando de nossa conta, mas seu carregamento não poderá exceder de 30 a 40 dúzias porque o Manoel do Basto diz ter muito café.” Dez anos mais tarde, em 3 de janeiro de 1853, é o próprio Manoel que escreve a “Abreu & Irmãos”, e revela autonomia ao assinar pelo Basto:
“Amigos e Senhores – Tenho presente seu favor de 27 do mês findo e em seu conteúdo fico muito certo, juntamente recebi as contas de venda que a mesma acompanhava. A Sumaca Três Irmãos fica carregando e deve sair por estes dias. Vejo o que me dizem respeito aos Marinheiros do Temerário e muito lhes agradeço a sua diligência para a Matrícula dos mesmos. Desejo-lhes perfeita saúde e sou de V. Mces, Amigo e criado obrigado,
Por Antonio Ribeiro Basto,
Manoel Ferreira Pinto Coelho”8
O arraial de Barra de São João foi elevado à categoria de Vila em 1846, mas teve de esperar até 15 de setembro de 1859 para emancipar-se de fato. Antes disso, toda petição que lhe dizia respeito tinha de ser encaminhada à Câmara Municipal de Macaé, razão pela qual, entre antigos documentos existentes no “Centro Macaé de Cultura”, encontra-se um pedido de Alvará feito em 6 de novembro de 1838 por Francisco José Marques de Abreu, onde ele diz …
“… que pretende continuar com a Caza de Negocio Sita no Arraial de São João da Sacra Família, em a qual vende liquidos espirituosos e alimentares, molhados, e fazendas secas de qual quer (sic) espécie que se ofereça, tudo em huma só Caza.”
A petição deixa claro que Francisco José já se achava à frente daquela casa havia algum tempo. De fato, foi em 1836 ou 1837 que ele trocou a Corte e a vida de mascate para juntar-se ao irmão mais velho, estabelecido com casa de negócio no vale do São João. Foi uma fase de imensas mudanças para os dois Marques de Abreu. A maior delas, porém, ocorreu quando José Joaquim se envolveu com Luísa Joaquina das Neves, que em 1º de janeiro de 1835 perdera o marido, Manoel da Silva Teixeira Travanca, comerciante e pequeno fazendeiro em Capivari.
Viúva aos 17 anos incompletos e tendo um filho ao colo, a futura mãe de Casimiro não tardou a aceitar a proteção que o destino lhe enviara. Dois meses após a morte do marido, ela e José Joaquim já estavam juntos na enorme Freguesia da Sagrada Família do Rio São João, correspondente à soma dos atuais municípios de Casimiro de Abreu e Rio das Ostras, onde irão permanecer por 13 anos. E fato de enorme importância: Luísa, em cartório, dá procuração com plenos poderes a José Joaquim para se pôr à frente de seus negócios.
Tudo indica que o envolvimento dos dois teve como primeira consequência a ida de Francisco José para Barra de São João. O fato é que, tão logo este chegou ao arraial, José Joaquim se sentiu livre para buscar um local pouco habitado, que tornasse menos constrangedora a situação de Luísa, totalmente inusitada para os padrões morais daquela época. Daí que os futuros pais de Casimiro se instalassem no “lugar de Rio das Ostras”, nove quilômetros ao norte, região de fazendas e sítios, ainda que plantada à beira-mar e dona de belíssimas praias.
Dispomos de documentos que nos mostram o pai do poeta habitando aquela localidade desde 1839, ou mesmo antes, ali atuando na “importação” e venda de africanos escravizados. Não tardaremos a encontrá-lo como sócio de Bartholomeu Soares na condução dum sortido armazém, que vendia não apenas bacalhau, azeite e vinho, mas telhas, panelas, pregos, fechaduras, tecidos, e até charutos. Tal sociedade viria a desfazer-se no primeiro semestre de 1845, como revela este aviso publicado em 10 de junho daquele ano no Jornal do Commercio e no Diário do Rio de Janeiro, e por este republicado no dia 23:
“José Joaquim Marques de Abreu, negociante na Barra de S. João, faz público que a sociedade que tinha com Bartholomeu Soares, em uma casa de negócio no Rio das Ostras, que girava com a firma de Bartholomeu Soares e C., se acha dissolvida, ficando o anunciante com o negócio por sua conta, debaixo da sua administração, e encarregado da liquidação das dívidas ativas, para pagamento das passivas a José Pereira da Silva e Antonio Ramos de Oliveira, únicos credores daquela extinta sociedade. Barra de S. João, 27 de maio de 1845.”
Percebe-se, pois, que na virada de 1844 para 1845 foram tomadas decisões que assim se encadearam ao longo do tempo: José Joaquim não renovou o contrato de aluguel que mantinha com Manoel Ferreira Pinto Coelho, fechou o armazém de Barra de São João, e assumiu sozinho o de Rio das Ostras, o mesmo que, em 1857, ao chegar de Portugal com Casimiro, vendeu a José Júlio Lopes Gonçalves, e que mais tarde iria transformar-se na conhecida “Casa Miranda Jordão”, familiar aos mais antigos filhos daquela localidade.
E foi um deles, o nosso querido e saudoso amigo “Seu Bipa” (apelido carinhoso do Sr. Nagippe Jorge), que nos revelou o exato ponto em que existiu aquela Casa. Registramos a data. Foi na manhã de 5 de março de 1992, que a nosso pedido, Seu Bipa fez conosco um giro de carro por alguns pontos de Rio das Ostras que queríamos “ver” para saber situá-los, e que ele, que havia ali nascido, crescido e trabalhado, conhecia tão bem quanto a palma da mão. Terminado o passeio, paramos na Praça José Pereira Câmara, antigo Largo da Conceição, para tomar um café. E foi então que, espontaneamente, sem que jamais tivéssemos tocado nesse assunto com ele, Seu Bipa apontou para a “Padaria e Confeitaria Laticínios Rio das Ostras” (à direita da praça, o mar à nossa frente), e comentou num leve tom de saudade, “Ali ficava a Casa Miranda Jordão”, que traduzimos por “Ali ficava o armazém do pai de Casimiro”.9
Desfazer-se do armazém de Barra de São João não afastou dali os dois irmãos, que continuaram a fazer uso do trapiche para estocar a madeira, o café, e os produtos da olaria que enviavam para a Corte. Sabiam, porém, que o mais rendoso dos negócios que existia sob o sol, não era o de toras e pranchas, de tijolos e telhas, ou de sacas de café, mas o da venda de escravos, que dava um lucro astronômico. Daí que, escorados na montanha de dinheiro que o amigo Manoel Pereira se dispunha a investir no cobiçado negócio, pudessem dobrar seus ganhos, ora como sócios do abastado protetor, ora com recursos que dele obtinham a título de empréstimo. Depois irão mais fundo, ligando-se ao esquema de traficantes de escravos encabeçado por Carvalho & Rocha,10 uma firma do Rio de Janeiro. E para confirmar que “quem corre atrás de riquezas quase sempre as encontra para sua desgraça”, aos dois irmãos não vão faltar bons lucros, e ao lado destes, um punhado de problemas e de noites mal dormidas.
Aqui, porém, para não nos afastar daquilo a que este artigo se propõe, não vamos abordar os negócios clandestinos dos dois irmãos. Vamos, isso sim, saltar para o ano de 1850, quando a Lei Eusébio de Queirós deu um golpe irreversível no tráfico de escravos, um dos motivos que levaram o antes próspero vale do São João à decadência. Sem a mão de obra dos escravizados, responsáveis pela limpeza e desobstrução dos rios, o assoreamento foi aos poucos impedindo a navegação, precipitando o fim dos portos fluviais e a ruína das vilas ribeirinhas. Veio juntar-se a isso, alguns anos depois, a chegada das primeiras ferrovias, que em seu afã de encurtar distâncias, costumavam condenar à morte as rotas existentes. Pior: não só para abrir caminho, mas também para o fabrico de dormentes e produção de lenha para a caldeira das máquinas, elas próprias, as estradas de ferro, contribuíam para o desmatamento da região e o consequente transbordamento dos rios, portador de graves e mortais epidemias. Foi o que ocorreu com boa parte do vale do São João, e o condenou ao esvaziamento econômico.
Basta ver o anúncio publicado em janeiro e fevereiro de 1865 no Voz da Barra, periódico noticioso de Barra de São João, onde é feito um convite aos moradores para assistirem à encenação de um drama, O sedutor e o amante, com artistas de uma certa Associação Dramática Minerva. Nesse anúncio, destacamos uma frase, “O theatro é nos salões da casa denominada Trapiche.”, pela qual se constata que, decorridos poucos anos da enérgica atuação de Eusébio de Queirós, o trapiche já se achava inoperante, vazio, livre das toras e tábuas, dos tijolos e telhas, e das sacas de café dos produtores locais. Do contrário, dificilmente alguém se proporia a montar naquele espaço uma peça teatral.
Deve ser lembrado, porém, que o declínio das exportações não condenou à morte o comércio doméstico, que atendia às necessidades imediatas dos habitantes da vila. Daí porque, alguns anos depois, o prédio em que o pai de Casimiro tivera o seu armazém, já se achava ocupado pelos sócios Antônio Joaquim Vieira Peixoto e Alfredo Hoche Ximenes, com comércio de secos e molhados. Girando sob a firma “Vieira Peixoto & Ximenes”, seu registro na Junta Comercial foi citado no Jornal do Commercio de 1º de janeiro de 1890. A sociedade, contudo, não teria vida longa, pois Ximenes a deixou em 1897, e dois anos depois, em 1º de fevereiro de 1899, deu-se a morte de Peixoto, o sócio remanescente.
Foi em 8 de junho de 1867 que Antônio Joaquim Vieira Peixoto, português da freguesia de Santa Maria da Esperança, se casou com a sanjoanense Maria Roza de Souza, 11 em ato que juntou três personagens da história de Casimiro: o Vigário João Ferreira Passos, que celebrou a cerimônia, além do Dr. Antônio Lobo Vianna e Antônio Ramos de Oliveira, que serviram de testemunhas. Do enlace, nasceram pelo menos três filhas e três filhos: Gertrudes, Arthur, Lucinda, José, Adelaide e Manoel, sendo que o segundo, Arthur Vieira Peixoto, além de grande admirador de Casimiro, era excelente poeta.
Difícil precisar o ano em que, solteiro ou já casado, Antônio Joaquim Vieira Peixoto passou a residir no prédio em questão. Há, porém, entre os vários termos de nascimentos e óbitos de seus filhos e filhas, um, do dia 21 de setembro de 1891, quando ele vai a cartório registrar o óbito de um filho (“branco, natimorto”) e diz explicitamente ser “morador na Praça do General Deodoro, no 1”.12
Difícil também é saber quando o imóvel se tornou propriedade dos Vieira Peixoto. Aliás, há indícios de que não lhes pertencesse integralmente, mas que parte dele fosse de Alfredo Hoche Ximenes. Basta ver que, ao ser vendido ao comerciante Ciro Teixeira Meireles13 em 8 de outubro de 1935, entre os nomes dos 13 vendedores (seis dos quais, Vieira Peixoto), aparecem os de Aldemar Hoche Ximenes e Adda Ximenes Machado. Não esquecer que em suas origens o prédio pertencera a cinco diferentes proprietários, nos levando a supor que haja alguma relação entre a citada venda e a “Declaração pública de doação de bens” assinada em Carapebus em 1889, que seria uma etapa para que herdeiros dos primitivos donos pudessem se desfazer das quintas partes que lhes pertenciam.
Tendo comprado o prédio por 1:600$000 (um conto e seiscentos mil réis), Ciro Teixeira Meireles e sua esposa, Deolinda Teixeira Meireles, o venderam em 1º de abril de 1938 a Bernardo José Gomes, que pensando transformá-lo em escola ou casa de cultura, desembolsou por ele a vultosa importância de 5:000$000 (cinco contos de réis). Foi, sem dúvida, a mais conhecida das doações que fez à cidade, ainda que haja outras a serem lembradas, como a construção do Colégio Santa Maria, e a herma da Praça As Primaveras, inaugurada em 28 de abril de 1940, tendo no topo o busto de Casimiro, excelente trabalho de João Zaco Paraná.
Próspero industrial e homem de negócios, Bernardo José Gomes nasceu em Barra de São João em 20 de junho de 1879, e ali foi batizado alguns meses depois, em 18 de outubro. Filho e neto de sanjoanenses (o pai, Francisco Militão Gomes, era dono da fazenda Fortaleza; o avô, de nome idêntico ao seu, dono da Fazenda Catumbi), ele e seus irmãos foram criados no culto à memória do autor de Primaveras, como disse em depoimento à revista A Noite Ilustrada de 20 de dezembro de 1949. E disse mais; que seu avô “tinha estreitas relações de amizade com os Marques de Abreu”, e fora uma das duas testemunhas que assinaram a procuração pela qual, três dias antes da morte de Casimiro, a mãe deste, Luiza Joaquina das Neves, “em cazas do Senhor Antonio Ramos de Oliveira”, deu poderes “ao seu compadre Manoel da Fonseca Silva e ao Senhor Doutor Francisco Manoel das Chagas” para tratarem de seus interesses no inventário de José Joaquim Marques de Abreu.
Se atentarmos para a época em que Bernardo José Gomes fez suas doações a Barra de São João, ficam claros os motivos pelos quais não tardaram a ser efetivadas aquelas que dependiam apenas de sua ação pessoal, enquanto as dependentes de decisões de governo não gozaram da mesma celeridade. Período de enormes turbulências, como a quebra da bolsa de valores de Nova York em 1929, a crise que atingiu o Brasil e o levou à revolução de 1930, e sobretudo a segunda guerra mundial, que se estendeu de 1939 a 1945, tudo isso, somando-se à carência de recursos e à lentidão da burocracia, acabou por afetar os planos do generoso doador, e levar ao inevitável arruinamento do trapiche.
Diante das dificuldades existentes no plano municipal, Bernardo José Gomes decidiu agir em outra direção, isto é, na de doar o prédio ao Estado do Rio de Janeiro, que lhe pareceu mais apto a dar ao imóvel a destinação com que sonhara ao comprá-lo. O resultado veio a 4 de janeiro de 1957, data que marcava os 118 anos de nascimento do poeta, quando o governador Miguel Couto Filho assinou o Decreto 5.580, assim anunciado dois dias depois no jornal O Fluminense:
“O chefe do Governo fluminense vem de assinar decreto, criando, sem aumento de despesas, a ‘Casa de Casimiro de Abreu’, que ficará sob a supervisão do Secretário de Educação e Cultura e ‘terá por finalidade cultuar a memória do inspirado poeta, sob vários aspectos, inclusive com a realização de conferências sobre sua vida e sua obra e reunir documentos e objetos que lhe pertenceram.”
A Divisão do Domínio do Estado, de acordo com o mesmo decreto, está autorizada a aceitar a doação do prédio onde nasceu o maior lírico brasileiro, situado em Barra de São João, no município que tomou seu nome, para nele instalar a ‘Casa de Casimiro de Abreu.”
Quase dois anos depois, a 18 de setembro de 1958, quando Togo de Barros é que se achava à frente do governo fluminense, foi finalmente assinada em Niterói a escritura almejada por Bernardo José Gomes, através da qual, ele e sua esposa, Sra. Maria Vianna Moreira Gomes, transferiram ao Estado do Rio de Janeiro a posse do “prédio no 1 (hum) da Praça Marechal Deodoro, na cidade de Barra de São João”. A escritura, integralmente transcrita no final deste artigo, foi lavrada à folha 124-v do 10o Livro de Notas do Cartório Lígia Campos Vieitas (19º Ofício de Justiça), e traz as assinaturas do Procurador do Domínio do Estado, do casal de doadores, das duas testemunhas, e da Tabeliã titular do cartório.
Decorridos 15 dias, em 3 de outubro de 1958, foi eleito para governar os fluminenses um jovem político de Bom Jesus de Itabapoana, Roberto Silveira, que deixou claro o seu propósito de salvar o trapiche. Basta ler esta nota que aparece em 7 de agosto de 1959 no jornal O Fluminense, de que nos valemos de novo:
“Será recuperada a Casa de Casimiro de Abreu – No ofício do titular da pasta da Educação e Cultura do Estado do Rio, em que solicitou ao chefe do Executivo estadual providências no sentido de ser recuperada a “Casa de Casimiro de Abreu”, próprio estadual situado no município de Barra de São João, o Governador Roberto Silveira exarou o seguinte despacho: “Encaminhe-se à Secretaria de Obras para que sejam os reparos necessários incluídos no Plano de Consertos ‒ como providência preferencial. Devemos cuidar da “Casa de Casimiro de Abreu” com a mesma constante ternura com que ele cuidou das nossas pitangueiras, dos nossos mares, e das “asas ligeiras das borboletas azuis” do nosso Estado e do nosso País.”
Deve ser lembrado, contudo, que foi nessa altura, a 21 de abril de 1960, que se deu a mudança da capital do país para Brasília. Com isso, o antigo Distrito Federal foi transformado em Estado da Guanabara, e conviveu por 15 anos com o histórico e tradicional Estado do Rio de Janeiro. Deve também ser lembrado que, a partir de 31 de março de 1964, o Brasil passou a ser governado por membros das forças armadas. E foi nessa fase, que em 12 de julho de 1974, o presidente Ernesto Geisel decretou a fusão dos dois Estados, implantada em 1º de março de 1975, e cabendo ao contra-almirante Floriano Faria Lima governar o novo Estado do Rio de Janeiro até 15 de março de 1979.
Tendo Roberto Silveira morrido a 28 de fevereiro de 1961 em consequência do acidente de helicóptero que sofrera na semana anterior, tornou-se difícil avaliar se chegou a dar frutos a disposição que exibira em seu poético despacho. O fato é que, em 28 de julho de 1960, a menos de três meses do “18 de outubro” que marcaria o 1o centenário de morte do poeta, o presidente da Câmara Municipal de Casimiro de Abreu, Manoel Duarte Monteiro, enviou uma carta ao diretor do Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rodrigo Melo Franco de Andrade, pedindo o tombamento do velho trapiche. Diz ele a certa altura:
“O prédio em apreço, ora abandonado e servindo de abrigo aos desvalidos da sorte, embora respeitado pela população, está em ruínas, e não poderá ser restaurado pelo município, por falta de recursos e pertencer ao patrimônio Histórico do Estado do Rio. Quando se aproxima o dia 18 de outubro, apelamos para V. Exa. no sentido de que o Patrimônio Histórico Nacional se associe e da melhor maneira às comemorações do 1º centenário da morte de Casimiro José Marques de Abreu”.
Sete dias depois, Rodrigo Melo Franco de Andrade acusou o recebimento da carta e, ato contínuo, solicitou ao remetente que lhe enviasse os documentos necessários ao exame da questão. Não é de estranhar, portanto, que agindo com tal presteza e espírito público, já pudesse em 12 de março de 1963, após comunicar ao governador fluminense, Dr. José Carvalho Janotti, o tombamento do trapiche, dar por encerrado o processo “613-T-60” com este breve despacho:
“Tendo sido encaminhada a notificação ao representante legal do Estado do Rio de Janeiro, pelo Aviso 635, de 7 de novembro de 1962, inscreva-se o imóvel no Livro do Tombo Histórico.” No dia seguinte, a ordem foi cumprida pela Chefe da Seção de História, Sra. Judith Martins, que anotou sob o despacho: “Inscrita a casa de Casimiro de Abreu sob o no 358, a fls. 58, do Livro do Tombo Histórico”.
Quando vemos que Bernardo José Gomes precisou esperar por mais de 20 anos para assinar a escritura de doação, percebemos que o tombamento do prédio foi o ato que uniu as administrações municipal, estadual e federal, e fez com que os projetos saíssem do papel. Tanto que, no ano seguinte, no governo Paulo Torres (04.mai.1964-12.ago.1966), iniciaram-se as obras de recuperação, que acabaram se estendendo por dez anos e mais três governadores. Desastradamente, porém, e até por desconhecimento de fatos que só agora neste artigo estão sendo revelados, demoliu-se em 1965 a parte detrás do trapiche ― justamente aquela em que o pai de Casimiro tivera o seu armazém.14
Deu-se então que, visando a corrigir equívocos detectados nas obras de restauração anteriormente efetuadas, o governador Raimundo Padilha determinou que se fizesse um levantamento sobre as condições da casa e do túmulo do poeta, como se vê na matéria “Casa de Casimiro de Abreu poderá ser visitada em 74” do jornal O Fluminense de 18 de setembro, de que transcrevemos o trecho inicial:
“Uma comissão especial nomeada pelo Governador Raimundo Padilha inicia hoje consultas ao Instituto Artístico e Histórico Nacional para elaboração dos projetos de recuperação da casa e túmulo onde nasceu e foi enterrado o poeta Casimiro de Abreu, no Distrito de Barra de São João, no Município que tem seu nome. A comissão verificou, no local, que depois de uma restauração efetuada há mais de cinco anos, algumas características da casa e do túmulo foram alteradas, como a supressão de um cais que existia junto à casa, onde eram desembaraçadas as cargas de café para o armazém do pai do poeta de “As Primaveras”.
A comissão, que segundo o jornal era formada pelo presidente do Conselho Estadual de Cultura, professor Paulo de Almeida Campos, pelo arquiteto Cláudio Couto, e pelo jornalista Aírton Baffa, pretendia começar as obras de restauração naquele mês de setembro, de modo a permitir que casa já pudesse ser visitada no início de 1974. E após enumerar alguns itens do projeto, a matéria termina com esta inusitada informação: “Atualmente, a casa está abandonada e o túmulo chegou a ser destruído com os ossos do poeta sendo roubados.”
As obras, na verdade, não começaram na data prevista. O contrato com a empresa que as iria realizar só viria a ser firmado em fevereiro do ano seguinte, como se constata pela nota abaixo, colocada junto à foto de um grupo de cidadãos numa das páginas d’O Fluminense de 8 de fevereiro de 1974:
“Aspecto da reunião do Presidente da FLUMITUR, Sr. Avelino Cabral, com os Srs. Luís Alberto da Conceição e Moacir Morais, o primeiro representando a firma “A.S.L. Conceição S.A.” para assinatura do contrato de reconstrução da Casa de Casimiro de Abreu, em Barra de São João. Esteve presente também o Sr. Paulo Brill, da Comissão de Reconstrução da Casa de Casimiro de Abreu, cuja obra será iniciada nos próximos dias. Será construído um terminal turístico da FLUMITUR, além de uma biblioteca, reunindo toda a obra e fatos ligados à vida do poeta fluminense.”
Segundo Paulo Pardal em seu artigo “Barra de São João, berço de Casimiro de Abreu”, as obras ficaram prontas “em fins de 1973, sendo a Casa inaugurada em junho de 1974 e entregue à responsabilidade da FLUMITUR.” Já vimos, porém, que foi exatamente nessa altura, a 12 de julho 1974, que foi decretada a fusão dos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, acarretando mudanças administrativas, sociais e culturais nas duas unidades da federação. E para ficarmos apenas na área que estamos abordando, lembramos que o novo Estado do Rio de Janeiro se viu forçado à criação de um novo órgão para cuidar dos museus e casas de cultura dos dois antigos Estados, o que levou à extinção da FLUMITUR, e ao surgimento da FEMURJ ‒ Fundação Estadual de Museus do Rio de Janeiro, criada em 9 de abril de 1975 pelo governador Faria Lima.
Quanto às perdas e ganhos da “Casa de Casimiro de Abreu” no quadro administrativo que derivou da fusão, Paulo Pardal diz tudo em poucas palavras:
“A possibilidade de melhorias na Casa, resultante de sua administração por um órgão especializado, esbarrou na clássica dificuldade de verbas, aliás, justificada pela extensão de problemas com que se defrontou a FEMURJ, responsável por mais de uma dezena de museus, dos quais alguns de grande porte – como o Museu Histórico do Estado, no Palácio do Ingá, e o do Primeiro Reinado, no Solar da Marquesa de Santos – teriam de ser reformados e instalados.”15
Poderíamos incluir na lista das perdas, uma que raramente é lembrada quando se associa a figura de Casimiro à fusão dos dois Estados. Referimo-nos à perda de visibilidade que ele sofreu como símbolo cultural da antiga Província do Império e do antigo Estado do Rio de Janeiro da fase republicana. Não se pode esquecer que o poeta se orgulhava de sua raiz fluminense, o que o levou a incluir na folha-de-rosto do seu livro Primaveras a expressão “Natural da Província do Rio de Janeiro”, sem saber que se tornaria o maior ícone da literatura fluminense, como o escritor Luiz J. Gintner constatou na pesquisa que fez em 1992, e divulgou no no 27 do boletim O bibliófilo investidor. Diante da pergunta: “Que escritor você associa de imediato ao seu estado natal?”, a grande maioria dos fluminenses consultados respondeu que, em relação à cidade do Rio de Janeiro, Machado de Assis; em relação ao estado, Casimiro de Abreu.”
Percebe-se, no entanto, que após a fusão das duas unidades federativas, esse símbolo se diluiu em meio a outros nomes que a exemplo de Casimiro eram conhecidos a nível nacional. Para se aferir o quanto ele foi cultuado no antigo Estado do Rio, basta lembrar a “guerra santa” que alguns membros da Academia Fluminense de Letras moveram ao escritor Nilo Bruzzi, inconformados com o retrato negativo que ele traçara do poeta em sua obra Casimiro de Abreu, biografia publicada em capítulos pelo Jornal do Commercio entre março e maio de 1949, e em forma de livro pela Editora Aurora em dezembro daquele ano.
Terminando, lembraríamos que mesmo após as obras concluídas em 1974, a “Casa de Casimiro de Abreu” continuou refém da falta de verbas apontada por Paulo Pardal. Sem recursos que lhe assegurassem a permanente e adequada conservação de seus bens, precisou submeter-se, por uma ou duas vezes, a novas restaurações. Daí que, visando a pôr fim a tal ciclo de incertezas, se decidisse por sua municipalização. Por outro lado, no plano estadual, a Lei 291-79, de 10 de dezembro de 1979, determinou a fusão da FEMURJ com a FUNTERJ (Fundação Estadual de Teatros do Rio de Janeiro), criando a FUNARJ (Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro, atual “Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro). Hoje, através de convênio da Prefeitura Municipal de Casimiro de Abreu com a Secretaria Estadual de Cultura, a administração da “Casa de Casimiro de Abreu” se encontra a cargo da “Fundação Cultural Casimiro de Abreu”, criada a 9 de dezembro de 1999, e com sede na cidade de Casimiro de Abreu (RJ).
1) Ilustração e/ou transcrição dos quatro documentos do Arquivo da Família Gavinho citados no início deste artigo. Três deles contêm um carimbo oval com os dizeres: “Faz. e Solar da Bertioga-Archivo Família Gavinho-Neves-Macahé.”
1.a) José Marques de Abreu se dirige à Câmara Municipal de Macaé = “Diz Joze Marques de Abreu morador na Barra do Rio de São João, que ele Suplicante (?) no auto de Correição de Vmces requereu que queria cercar dez Braças de frente para a rua do Armazém, e dez a conquistar com os fundos de Joze de Amaral, e como o Suplicante os quer por Termo de arrematação (……) fazer as suas Cazas para as (……) prontas, e como as (……) tanto (……)”
(Fragmento com furos e lacunas. Rasgado no final, o que impede, entre outras coisas, saber sua data. De difícil leitura, devido à baixa escolaridade do autor. Com esforço, pode-se especular sobre o que estava dito no trecho perdido. Por exemplo: que o autor planejasse construir casas para as vender prontas.)
1.b) Recibo passado por José Marques de Abreu = “Recebi da Sra. D. Joanna Francisca do Amor Divino a quantia de nove mil reis, por cujo preço lhe vendi a posse que tinha tirado em Câmara no terreno de dez Braças na Rua do Armazém confrontando por um lado com os chãos de Frutuoso José Ribeiro pelo outro com os de José do Amaral e fundos com chão do mesmo Amaral os quais se acham já marcados com esteios, e por estar pago e satisfeito passei este, entreguei também a licença (….) Casa da Câmara (….) ficando eu desonerado de toda qualquer penhora relativa ao mesmo terreno obrigando-me a fazer bom (sic) essa transação. Barra de S. João 23 Fevereiro 182- Joze Marques de Abreu.”
(Documento com furos e palavras ilegíveis. O algarismo rasurado na data sugere um “8”, o que parece se confirmar no item “c”, com o pagamento do imposto em 30 de maio de 1828. Mas não dá para afirmar).
1.c) Recibo de pagamento de imposto = “N. N.5o = A fl. 25v. do Lo do recebimento por bens gerais que serve no presente ano com o Tesoureiro Manoel José do Valle fica carregado (sic) a quantia de novecentos réis que pagou Joanna Francisca do Amor Divino moradora em São João da Cisa pelos chãos que comprou e sitos em São João a Joze Marques (sic) e para constar se lhe passou o presente que assinamos. Macaé 30 de maio de 1828. O Escrivão João Pacheco Souza”
1.d) Declaração pública de doação de bens = “Saibam quantos este público instrumento de Declaração Pública de Doação de Bens virem, que sendo no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oito centos e oitenta e nove, aos vinte e sete dias do mês de abril. Eu, Olyntho Werneck de Sá Vasconcellos, Tabelião Interino e Procurador na forma da Lei do Cartório do Tabelião Amaro Gomes da Cunha Braga, compareci na Fazenda Von Gavinho, Distrito de Carapebus, neste Município de Macaé, de propriedade do Exmo. Senhor Comendador José Gavinho Vianna, onde perante nós e das testemunhas os Exmos. Senhores Visconde de Ururahy e Visconde de Quissaman, compareceu o Exmo. Senhor Augusto Marianno Gavinho Ribeiro de Castro por si e por suas Exmas. Irmãs a Baronesa Dona Rachel Francisca de Tautphoeus e Dona Luiza Maria Gavinho Ribeiro de Castro, conforme procurações e escrituras apresentadas, requerendo para os devidos interesses que lhe lavrasse a presente Declaração Pública pela qual reafirmam terem doado à Exma. Senhora Dona Anna Joaquina Gavinho Ribeiro de Castro, a propriedade que em Barra de São João lhes coube pelo falecimento de sua tia bisavó a Exma Senhora Dona Joanna Francisca do Amor Divino Pereira Rabello, tratando-se do Terreno Loteado pelo finado senhor José Marques de Abreu, em cinco partes iguais a saber: Dez braças ao finado senhor José de Amaral; Dez braças ao finado Capitão José Ribeiro, Dez braças com o Armazém na margem do Rio de São João ao finado senhor José Joaquim Marques de Abreu; Dez braças à finada senhora Marianna de Magalhães e finalmente Dez braças à finada senhora Joanna Francisca do Amor Divino Pereira Rabello, as quais formam a referida propriedade com a Casa de Residência que ali foi construída. E não me tendo sido mais nada Declarado, Eu, Olyntho Werneck de Sá Vasconcellos, Tabelião Interino e Procurador na forma da Lei, do Cartório do Tabelião Braga, o escrevi, dou fé e assino (Sobre selos no valor de dois mil réis) em público e raso. Macaé vinte e sete de abril de mil oitocentos e oitenta e nove. Olyntho Werneck de Sá Vasconcellos.” “É o que continha no original ao qual me reporto e que se encontra sob o número 15, maço 24 do Arquivo deste Cartório, do que dou fé e assino (Sobre selos no valor de mil réis) em público e raso. Macahé, 22 de agosto de 1889. Olyntho Werneck de Sá Vasconcellos.”
Resumo da Declaração – Local: Carapebus, Fazenda do Comendador José Gavinho Vianna. Declarantes: Augusto Marianno Gavinho Ribeiro de Castro, por si mesmo e por suas irmãs, a Baronesa Dona Rachel Francisca de Tautphoeus e Dona Luíza Maria Gavinho Ribeiro de Castro. Motivo: reafirmar a doação que os declarantes tinham feito a Dona Anna Joaquina Gavinho Ribeiro de Castro da quinta parte de um terreno situado em Barra de São João, vendido por José Marques de Abreu à sua tia bisavó, Dona Joanna Francisca do Amor Divino Rabello, e herdado pelos três declarantes. Testemunhas: Visconde de Ururahy e Visconde de Quissaman. Escrivão: Olyntho Werneck de Sá Vasconcellos.
2-a) O Capitão Fructuoso José Ribeiro já aparece como “negociante e proprietário no Rio de São João” em documento de 16 de março de 1825. Gozando de prestígio, atua frequentemente como padrinho de batismos no vale do São João. Casou-se duas vezes. Primeiro com Victoria Rosa de Mesquita, com quem teve pelo menos a filha Porcina e o filho Fructuoso, nascido em 31 de maio de 1831. Depois, com Maria Antônia da Conceição, com quem teve pelo menos as filhas, Thereza e Custódia, sendo que o casamento de Thereza com Reginaldo Torres Braga, feito pelo Vigário João Ferreira Passos em 25 de novembro de 1858, teve por testemunhas Alexandre de Moraes Sodré e José Joaquim Marques de Abreu, a mostrar que este mantinha relações de amizade com o rico vizinho do Trapiche. Acrescente-se que as declarações de Fructuoso foram avalizadas pelos seguintes negociantes, que afirmaram conhecê-lo e saber, entre outras coisas, que ele era dono e interessado em parte do trapiche de Barra de São João: Joaquim José Nunes de Figueiredo, fabricante de açúcar na Vila de Macaé, José Álvares de Sousa, negociante na Rua da Vala, no Rio, Francisco José Marques (não confundir com o tio paterno de Casimiro), negociante de madeiras na Prainha. (Arquivo Nacional, Real Junta de Comércio, Negociantes, Pedidos de Matrículas, Caixa 396, Pacote 1 (1830/1833).
2-b) O Comendador José Maria do Amaral, nascido por volta de 1803, era português, naturalizado brasileiro. Negociante de tecidos, sócio de Amaral & Bastos, e Amaral, Bernardes & Cia., já era viúvo ao falecer em 10 de março de 1884 em sua casa na Praia de Botafogo, 180, no Rio de Janeiro, deixando 110 contos de réis em dinheiro para os filhos, filhas e netos. Seu testamenteiro foi o Barão da Lagoa.
3-a) Deve-se entender a frase “irá morar em nossa Casa como é de costume”, como se referindo às vezes em que Manoel Pereira lá esteve sozinho, sem a família, que era sofisticada, e não muito pequena. 3-b) Mafra: Manoel Pereira dos Santos Mafra, dono de colégio, capitalista, se autodeclarava o primeiro mestre de Casimiro. 3-c) Sá Pinto: Francisco de Sá Pinto de Magalhães, avô materno de Washington Luís, português de Alijó, onde nasceu em 25 de novembro de 1803. Foi por muitos anos farmacêutico em Barra de São João, onde morreu em 25 de outubro de 1887. Era, afetiva e comercialmente, ligado ao pai de Casimiro.
4) A frase “manda também reformar a cerca do quintal com refugo que tiver o João Manoel”, já foi comentada. Quanto ao personagem citado, é João Manoel Alves Martins, que em sociedade com José Pinto de Figueiredo, teve armazém em Barra de São João por volta de 1844. Era compadre do pai de Casimiro, que em 20 de fevereiro de 1845 foi padrinho de batismo da pequenina Emília, nascida em 11 de outubro de 1844, filha de João Manoel e de sua mulher Emiliana. Foi Casimiro que, escrevendo do Rio para Indaiaçu em 12 de outubro de 1857, anunciou ao pai: “Morreu na Paraíba do Sul o Sr. João Manoel Alves Martins.”
Joze Marques d’Abreu se dirige à Câmara Municipal de Macaé. Arquivo Família Gavinho.
Joze Marques d’Abreu dá recibo à Sra. Joanna Francisca do Amor Divino. Arquivo Família Gavinho.
Joanna Francisca do Amor Divino paga o imposto referente à compra do terreno. Arquivo Família Gavinho.
Cópia de Declaração Pública de Doação de Bens. Arquivo Família Gavinho.
5-a) Com ortografia atualizada, transcrevemos a declaração feita pelo pai de Casimiro, Reg. 38 da Folha 10-v do Livro 15 dos “Registros Paroquiais de Terras do Século XIX – Freguesia de Nossa Senhora da Assunção do Município de Cabo Frio:
“José Joaquim Marques de Abreu possui uma situação no lugar denominado Gargoá – que houve por compra a diversos, onde tem uma olaria, horta, pomar, casas, e outras coisas, e atualmente administrada por Jacintho Soares de Abreu, a qual confronta ao sul com o caminho velho do – Mondeo (?) – a oeste com o sítio de João Antonio Nogueira de Souza, ao Norte e a Leste com o Rio de São João, com os sítios de Antonio José Gavino e João Ignacio da Silva. Gargoá, 27 de Janeiro de 1856. José Joaquim Marques de Abreu”
5-b) Dia 12 de janeiro de 1996, levados pelo Sr. Walter d’Almeida, dono do restaurante “Pôr do Sol”, e acompanhados de um casal amigo nosso, Ignês Pacheco e Víctor Freeland, subimos o Rio São João, percorrendo mais de 20 km do seu leito. Nossa meta era tentar, com alguma precisão, identificar o local em que o pai de Casimiro tivera a sua olaria. Tínhamos informações de que, em certo ponto da margem, havia pedras de um velho cais e restos de tijolos e telhas.
O próprio Sr. Walter, aliás, nos falou dum local em que houvera “uma olaria” e nos levou até lá. Ficava em área plana, com canal de entrada para a água indispensável à produção de tijolos e telhas. E de fato, pudemos ver por lá alguns montes de barro endurecidos pelo tempo, e cacos de produtos de olaria. Distante uns quatro quilômetros da “Casa de Casimiro”, em terras de Cabo Frio, a área havia sido tomada pelo mangue, e os moradores da redondeza se referiam a ela como “Olaria”.
6) Guimarâes – Trata-se de Francisco José de Sá Marques Guimarães, dono de armazém de madeiras na Rua dos Beneditinos, no centro do Rio. Nome importante na maçonaria, era compadre do pai de Casimiro.
7) Pusemos a palavra “dono” entre aspas para alertar que, mesmo que Antonio Ribeiro Basto tenha sido o ocupante e principal usuário do trapiche, ele o foi, tanto quanto o pai de Casimiro, na condição de inquilino.
8) No no 6 do jornal O S. Joaneiro, de 26 de julho de 1859, ao lado do poema “Na rede”, único que Casimiro publicou em Barra de São João, há este anúncio em tom de “adeus”: “Manoel Ferreira Pinto Coelho, retirando-se para a Europa a tratar de sua saúde, se despede de todos os seus amigos da Vila da Barra de S. João, dos quais leva saudosa recordação, e a todos deseja saúde e prosperidade. Rio de Janeiro, 16 de Julho de 1859. Manoel Ferreira Pinto Coelho”.
9) O termo de batismo de Seu Bipa está na folha 18 do livro da matriz de Barra de São João referente ao período de 23 de julho de 1911 a 26 de julho de 1917: “Negippe – Aos vinte dias do mês de Agosto de mil novecentos e onze no Rio das Ostras desta freguesia da Barra de São João, batizei e pus os Santos Óleos ao inocente Negippe, com vinte e nove dias de idade, filho natural de Verônica Pereira Martins; foram padrinhos Francisco Rodrigues Pinto e Maria Alva Pimentel Rodrigues Pinto, e para constar mandei fazer este termo. O Vigário Padre José Bellotto”. Assim sendo, ele não nasceu a 29 de junho como dizia, e como está na sua sepultura em Barra de São João, mas em 22 de julho de 1911, data que adotamos. Quanto à grafia de seu nome, seguindo a tradição da família, adotamos a forma Nagippe. Chegamos a conhecer pessoalmente suas irmãs: D. Anália, em Macaé; D. Ernestina, em Rio das Ostras; D. Nazareth (14.jun.1913-26.jul.2002) em Barra de São João, onde por 20 anos fomos amigos, e finalmente D. Georgina Jorge dos Santos (29.fev.1928-13.nov.2016), mãe de Alcebíades Sabino dos Santos, duas vezes Prefeito de Rio das Ostras, que confirmou o local indicado por seu irmão Nagippe, como sendo aquele em que existira a “Casa Miranda Jordão”. O nosso querido amigo Seu Bipa faleceu no dia 25 de dezembro de 1996.
10) Carvalho & Rocha: Firma formada por José Gonçalves de Carvalho e Manoel José Coelho da Rocha, ambos portugueses. Foi incluída na “Lista de traficantes de escravos residentes no Rio de Janeiro” (“Select Committee of the House of Lords, appointed to consider the best means which Great Britain can adopt for the final extinction of the african slave trade, British Museum, Official Publications Library, 1850, Enclousure 3, p.239: List of slave merchants residing at Rio de Janeiro). Dona da sumaca Oliveira e do patacho Espadarte, de respectivamente 78 e 125 toneladas, a firma aparece no Almanack Laemmert de 1850, como tendo armazém de café à Rua de São Pedro, 64, não muito longe da Igreja da Candelária.
11) Ao casar-se com Maria Roza, Antonio Joaquim estava se casando com uma sobrinha sua, pois ela era filha de Roza Maria de Souza, que ao ficar viúva de Francisco Maria de Souza, casara-se em 21 de julho de 1860 com Clemente Batista Vieira, irmão de Antonio Joaquim. Os dois enlaces aparecem no único livro de casamentos do século 19 da Matriz de Barra de São João: o de 1860, na folha 84; o de 1867, na 167. Foram ambos realizados pelo Vigário João Ferreira Passos, que viria a falecer em 1º de dezembro de 1894, e de quem, por uma ironia do destino, Antonio Joaquim Vieira Peixoto foi nomeado testamenteiro.
12) Cartório Naildo Borges Macabu (Casimiro de Abreu-RJ) – L.2, fl. 114-verso)
13) Ciro Teixeira Meirelles aparece no Almanack Laemmert de 1915 entre os comerciantes de Barra de São João como exportador de aves ou pombeiro. Consta que era conhecido pelo simpático apelido de “Caziza”.
14) Bastaram dois anos para que o tombamento do imóvel, decretado em 12 de março de 1963 pelo Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, fosse criminosamente desrespeitado. Sim, porque em maio de 1965, como se vê por uma foto pertencente ao Arquivo Central daquela instituição, o desmanche do prédio em que o pai de Casimiro tivera armazém já se tornara irreversível. A quem culpar? Primeiramente, não se conheciam certos fatos que só agora neste artigo estão sendo revelados. Com as más estradas, os limitados meios de transporte, e o precário serviço telefônico disponível àquela altura, dá para entender como um crime cultural de tal porte escapou à vigília dos órgãos governamentais.
Houve protestos, é verdade, como na carta que a 4 de novembro de 1969, Renato Soeiro, sucessor de Rodrigo Mello Franco de Andrade na direção do DPHAN, enviou ao Secretário de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Carlos Manuel Castanheira Damásio. Diz-lhe que o “programa de trabalhos não previa a supressão de qualquer elemento original do prédio e nem consulta posterior a esse respeito foi encaminhada à consideração desta Diretoria. Ao contrário, foi examinado seu aproveitamento integral, quando se cogitou de utilizá-lo como sede da Cruzada de Assistência Social Educativa.” Diz mais; que fora constatada “em recente inspeção no local, a eliminação do corpo posterior da casa, fato esse que constitui infringência do Decreto-lei no 25, de 30 de novembro de 1937, que expressa em seu artigo 17 não poderem as coisas tombadas em caso nenhum ser destruídas, demolidas ou mutiladas.” E conclui pedindo explicações: “À vista do exposto, venho solicitar as diligentes providências de V. Exa no sentido de serem devidamente esclarecidas as razões que determinaram aquela medida, privando o monumento tombado de um de seus elementos mais característicos, destinado em sua primitiva função a trapiche e daí sua localização à margem do Rio São João, nas proximidades de sua foz.”
Acrescentamos: desde 1976, quando conhecemos Barra de São João, onde por 22 anos tivemos uma casa, nos acostumamos a ouvir de antigos moradores que as pedras e telhas resultantes das demolições locais tinham sido vendidas e usadas nas mansões de Armação dos Búzios (RJ).
15) Revista Educação, MEC, Brasília (DF), 1979, out-dez, ano 8, no 32, páginas 02 a 20. Professor, engenheiro, Paulo (José) Pardal nasceu em Niterói em 21 de novembro de 1929 e faleceu no Rio de Janeiro em 20 de abril de 2004. Era membro do I.H.G.B. e autor de vários livros ligados à arte popular, como Carrancas do São Francisco, de 1974, e A escultura mágico-erótica de Chico Tabibuia, de 1989. Dirigiu a “Casa de Casimiro de Abreu” em Barra de São João (RJ) de 1976 a 1987.
I) Arthur Vieira Peixoto e outros vendem a Ciro Teixeira Meireles = A nosso pedido, o Cartório Franklin Santos, 2º Ofício de Notas de Casimiro de Abreu (RJ) extraiu Certidão assinada em 11 de abril de 2002 pela Titular Therezinha de Aquino Costa dos Santos, que reproduz resumidamente o Registro no 94, de 26 de março de 1938, que se acha à folha 30 do livro 03 do Registro Geral de Imóveis daquele Cartório. Principais tópicos: Certidão de Escritura de Venda e Compra extraída em 08 de outubro de 1935. Tabelião Elpídio Mathias Netto. Valor do contrato: Rs1:600$000 (um conto e seiscentos mil réis), já recebidos. Registro Geral de Imóveis: Livro 03, folha 30, registro no 94, de 26 de março de 1938. Circunscrição: Segundo Distrito deste Município. Praça Marechal Deodoro, no 01, Barra de São João. Um prédio térreo sito à Praça Marechal Deodoro, número um, na cidade de Barra de São João, Estado do Rio de Janeiro, fazendo frente para a dita praça, fundos com o rio “São João”, sem confrontantes quer por um ou outro lado. Adquirente: Cyro Teixeira de Meirelly (sic, leia-se Meirelles), brasileiro, maior, casado, negociante, residente na cidade de Barra de São João. Transmitentes: Arthur Vieira Peixoto, Antonio Vieira Peixoto, Lucinda Vieira Peixoto, Clemente Vieira Peixoto, Manoel Vieira Peixoto, Gertrudes Vieira Peixoto, Aldemar Rock Ximenes, brasileiros, maiores, solteiros, residentes na Ilha do Governador, Capital Federal; José Vieira Peixoto e s/m Dona Baldaína de Souza Peixoto, brasileiros, residentes na Vila e Termo de São Manoel (MG), João Duarte de Azevedo e José Marinho Moreira Machado e s/m Adda Ximenes Machado, também brasileiros e residentes na cidade de Macaé (RJ).
Nota complementar: Há uma versão de que a venda do imóvel se deu em 1924 ou 1925. Mas o único documento oficial referente a tal venda, é a “Certidão de Escritura de Venda e Compra, extraída em 08 de outubro de 1935 pelo Tabelião Elpídio Mathias Netto”, citada dois anos e meio depois, quando, para poder vender o imóvel a Bernardo José Gomes, Ciro Teixeira Meireles providenciou o seu registro no Registro Geral de Imóveis de Casimiro de Abreu (Livro 03, folha 30, registro no 94, de 26 de março de 1938). Diante disso, e quando vemos que foram 13 herdeiros que venderam o imóvel a Ciro Teixeira Meireles, passamos a supor que, para agilizar venda, tenha sido feito inicialmente um documento particular, até que, concluído o inventário, pudesse ser feita uma escritura em cartório e que, sintomaticamente, aparece como “Certidão”.
II) Ciro Teixeira Meireles e s/m vendem a Bernardo José Gomes = A nosso pedido, o Cartório Franklin Santos, 2º Ofício de Notas de Casimiro de Abreu (RJ), extraiu Certidão assinada em 30 de novembro de 1998 pela substituta autorizada Sebastiana de Fátima S. Reis, na qual é dito que em seus Arquivos, nas folhas 96-verso a 98 do Livro 02, consta a Escritura Pública de Compra e Venda de um prédio térreo, sito às Praça Marechal Deodoro, número um, na cidade de Barra de São João, 2º Distrito do Município de Casimiro de Abreu (RJ), que fazem entre si Ciro Teixeira Meireles e sua mulher, vendedores, a Bernardo José Gomes, comprador, pelo preço de Rs5:000$000 (cinco contos de réis), assim resumidamente descrita: = Data 1º de abril de 1938, “nesta Vila de Casimiro de Abreu”. As partes justas e contratadas: Vendedores, “Ciro Teixeira Meireles e s/m Dona Deolinda Meireles da Rosa, brasileiros, casados sob o regime de comunhão, domiciliados na cidade de Niterói”, ele comerciante “e ela de profissão de prendas domésticas”. Outorgado comprador: “Bernardo José Gomes, brasileiro, casado, comerciante, domiciliado na Capital Federal” (…) “todos de passagem por esta Vila e reconhecidos de mim Tabelião como os próprios de que trato e dou fé, e das duas testemunhas adiante nomeadas e assinadas também minhas conhecidas”. “pelos outorgantes me foi dito que são senhores e legítimos possuidores de um prédio térreo sito à Praça Marechal Deodoro, no 01, na cidade de Barra de São João, segundo antigo primeiro distrito deste Município, fazendo frente para a dita praça, fundos com o rio “São João”, sem confrontantes quer por um ou outro lado. E possuindo eles outorgantes o referido imóvel livre de quaisquer ônus e que foi adquirido por compra que fizeram a Arthur Vieira Peixoto e Outros, conforme título de transmissão sob o número noventa e quatro (94) a folhas trinta (30) do livro no 3 (três), em vinte e seis (26) de março do ano corrente, Oficial Franklin José dos Santos, resolveram vendê-lo, como de fato vendido tem-no ao Outorgado pelo preço e quantia de cinco contos de reis (5:000.000), que eles Outorgantes receberam em moeda corrente do Outorgado, pelo que lhe dão plena e geral quitação (…). Ciro Teixeira Meireles tem procuração de sua esposa, Deolinda Meireles da Rosa. Bernardo José Gomes foi representado por Fonseca, Filho e Companhia, firma da Capital da República representada pelo sócio Moysés Gomes dos Santos.
Bernardo José Gomes e s/m doam o prédio ao Estado do Rio de Janeiro = Estado do Rio de Janeiro, Comarca de Niterói, Cartório do 19º Ofício, José Geraldo de B. Guimarães – Substituto. Lígia Campos Vieitas, Tabeliã, Escrivã e Oficial do Registro de Comércio da Terceira Circunscrição da Comarca de Niterói, Capital do Estado do Rio de Janeiro, por nomeação da Lei etc. CERTIFICA: Atendendo a pedido verbal do interessado, que revendo em meu poder e Cartório os livros de Notas, deles, no de número 10, às folhas 124-verso, consta a escritura de teor seguinte: “Escritura Pública de doação condicional, que entre si fazem o Estado do Rio de Janeiro e Bernardo José Gomes, na forma abaixo: Saibam quantos esta pública escritura virem que no Ano de Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, de 1958, aos 18 dias do mês de setembro, nesta cidade de Niterói, Capital do Estado do Rio de Janeiro, em meu Cartório, à Avenida Amaral Peixoto no 286, sala 102, perante mim, Tabeliã, do 19º Ofício, por me haver sido esta distribuída, compareceram partes entre si justas e contratadas, de um lado, como Outorgante donatário, o Estado do Rio de Janeiro, neste ato representado pelo Seu Procurador de Domínio do Estado, Dr. Altamiro de Souza Rangel, brasileiro, casado, advogado, consoante Portaria no 883/58, de 21 de agosto de 1958, do Exmo. Sr. Secretário de Finanças, que fica arquivada, em meu Cartório e vai adiante transcrita; e, de outro lado, como Outorgantes doadores, o Senhor Bernardo José Gomes e sua mulher Dona Maria Vianna Moreira Gomes, brasileiros, ele comerciante, ela do lar, estando, neste ato, ela por ele representada, consoante procuração lavrada no Cartório do 13º Ofício do Distrito Federa, livro 157, fls. 115, que será registrada; os presentes conhecidos como sendo os próprios, por mim, Tabeliã, e pelas testemunhas adiante nomeadas e no final assinadas, também minhas conhecidas, do que dou fé, e então, perante as mesmas testemunhas, pelos Outorgantes doadores, me foi dito: I) que os mesmos são legítimos senhores e únicos possuidores do prédio no 1 (hum) da Praça Marechal Deodoro, na cidade de Barra de São João, adquirido por outra escritura pública de 1/4/1938, e lavrada no livro no 2 (dois), às fls. 96-verso a 98, do Cartório do 2º Ofício do Município de Barra de São João, com uma área construída de 629,58m2 (seiscentos e vinte e nove metros e cinquenta e oito centímetros quadrados), em terreno plano, da Praça Marechal Deodoro e que apresenta as seguintes confrontações e características; pela frente, na extensão de 35,30m (trinta e cinco metros e trinta centímetros), igual largura na parte dos fundos, com testada para o Rio São João, contendo uma área descoberta de 33,30m (trinta e três metros e trinta centímetros), pelo lado direito, na extensão de 32,40m (trinta e dois metros e quarenta centímetros), igual metragem pelo lado esquerdo; II) dita propriedade acha-se registrada no Cartório do Registro de Imóveis da Comarca do Município de Barra de São João, a folhas 31, do livro 3, sob número 99, tendo sido dito imóvel adquirido de Ciro Teixeira Meireles e sua mulher, conforme escritura em 1º de abril de 1938; III) que, assim, como proprietário do imóvel em causa, o Outorgante doador faz doação ao Estado do Rio de Janeiro, para nele ser instalada a Casa de Casemiro de Abreu, de acordo com o Decreto Estadual no 5.580, de 4 de janeiro de 1957, para o fim especial de nela ser cultuada a memória do Poeta, sob vários aspectos, inclusive com a realização de conferências sobre a sua vida e obra, e reunir documentos e objetos que lhe pertenceram, ficando doado, como doado tem, o imóvel de que se trata, com as confrontações e características já descritas no item “I” desta escritura e constante das plantas organizadas pela Divisão do Estado, em três vias, assinadas pelas partes e por mim, Tabeliã, autenticadas, sendo entregues uma via ao Outorgado donatário, juntamente com o primeiro traslado desta escritura e ficando a outra arquivada em meu Cartório, como elemento integrante desta escritura, pelo que os Outorgantes doadores transmitem ao Outorgado donatário, todo o domínio, direito e ação e posse, que têm sobre o referido imóvel, para que o Estado do Rio de Janeiro o possua, como seu que fica sendo, de hoje em diante, por bem desta escritura e da cláusula “constituti”, obrigando-se os Outorgantes doadores por si, seus herdeiros e sucessores, a fazer a presente doação a todo o tempo boa, firma e valiosa, e a responderem pela evicção. Pelos Outorgantes doadores e Outorgado donatário, este por seu representante, perante as mesmas testemunhas, foi dito, afinal que aceitavam a presente escritura como lhe era dada. Transcrevo o documento seguinte: Portaria no 983/58. O Secretário das Finanças do Estado do Rio, Resolve designar o Procurador de Domínio do Estado, Bacharel Altamiro de Souza Rangel, para assinar a escritura pública de doação condicional, que entre si fazem, de um lado, como Outorgante donatário o Estado do Rio de Janeiro, e de outro lado, como Outorgado doador o Senhor Bernardo José Gomes. O referido contrato obedecerá aos termos da minuta anexa ao processo no 02882 – S. F., fls. 18, aprovada em 11 de agosto de 1958, Niterói, 21 de agosto de 1958. (a) Valfredo Martins, Secretário. Paga a presente em selos estaduais, no valor de R$55,00, sendo Cr$5,00, judiciário e Cr$50,00 da Taxa de Aposentadoria. Assim, justos e contratados, me pediram lhes lavrasse a presente escritura, a qual feita, lida em voz alta e em tudo achada conforme, vai assinada por eles, contratantes e pelas testemunhas presenciais, maiores e capazes, Hilton Soares de Almeida e Armando Affonso Vianna, residentes nesta cidade, perante mim, Tabeliã, que a tudo me reporto e dou fé. Eu, Luiz Carlos Monteiro Leite, Escrevente de Justiça, escrevi, e ressalvo a rasura que diz: “dezoito” E eu, Lígia Campos Vieitas. Niterói, 18 de setembro de 1962. Bernardo José Gomes. PP Bernardo José Gomes, Altamiro de Souza Rangel, Hilton Soares de Almeida, Armando Affonso Vianna. (Sobre selos estaduais, no valor de Cr$55,00)” Era o que continha em o livro e folhas mencionados, para aqui bem e fielmente transcrito por certidão, do que dou fé, nesta cidade de Niterói, Capital do Estado do Rio de Janeiro, aos vinte e três dias do mês de outubro de 1962. Eu (…) Escrevente de Justiça, datilografei. E eu (…) Tabelião substituto, subscrevo e assino (…) José Geraldo de Bragança Guimarães, Substituto.
1) Lacombe, Luiz Lourenço
Os chefes do executivo fluminense
MEC-Museu Imperial, Petrópolis, 1973.
2) Jornal O Fluminense, Niterói (RJ)
Alzira Rosa Santos Gavinho Thomaz
Andressa Furtado da Silva de Aguiar
Tatiana Lopes Salciotto
Vilcson Mateus dos Santos Gavinho
Se você tem ou teve parentes em Porto das Caixas, Itaboraí, Cantagalo ou Cordeiro (RJ), se seu bisavô e bisavó se chamavam Francisco e Modesta, ou se seu avô e avó se chamavam Américo e Florinda, por favor, entre em contato conosco.
Se você tem alguma informação sobre eles, por favor, entre em contato conosco. O primeiro, contém o batismo de Casimiro; o segundo, os óbitos dele, de seu pai, de seu tio Claudino, e talvez o do padre Luiz Francisco de Freitas, que batizou o poeta.