Adelaide Augusta, a menina da foto, era a filha caçula de Antônio Francisco da Costa Cabral, um dos patrões de Casimiro na firma “Câmara, Cabral & Costa”. Tratada carinhosamente por “Yayá”, ela inspirou ao poeta alguns belos poemas por ele incluídos em seu livro Primaveras.
Na primeira folha de um álbum.
A flor mimosa que abrilhanta o prado
Ao sol nascente vai pedir fulgor;
E o sol, abrindo da açucena as folhas,
Dá-lhe perfumes ─ e não nega amor.
Eu que não tenho, como o sol, seus raios,
Embora sinta nesta fronte ardor,
Sempre quisera ao encetar teu álbum
Dar-lhe perfumes ─ desejar-lhe amor.
Meu Deus! nas folhas deste livro puro
Não manche o pranto da inocência o alvor,
Mas cada canto que cair dos lábios
Traga perfumes ─ e murmure amor.
Aqui se junte, qual num ramo santo,
Do nardo o aroma e da camélia a cor,
E possa a virgem, percorrendo as folhas,
Sorver perfumes ─ respirar amor.
Encontre a bela, caprichosa sempre,
Nos ternos hinos d’infantil frescor
Entrelaçados na grinalda amiga
Doces perfumes ─ e celeste amor.
Talvez que diga, recordando tarde
O doce anelo do feliz cantor:
─ “Meu Deus! nas folhas do meu livro d’alma
Sobram perfumes ─ e não falta amor!”
Junho ─ 1858.
Publicado inicialmente em Porto das Caixas na edição de 15 de setembro de 1858 do jornal O Popular, vinha datado de “Junho ─ 1858”. Passado um ano, com pequenas modificações e a mesma data, foi de novo publicado, desta vez no livro Primaveras. Foi só em 1956, quase um século depois, que se pôde saber um pouco mais a respeito do poema, graças ao trabalho de Arnaldo Nunes, Autógrafos de Casimiro de Abreu, separata do volume IX da Revista da Academia Fluminense de Letras. Ali, nas páginas 157-158, pode-se ver a foto do manuscrito, mostrando que o poema fora feito em 12 de junho de 1858 (“Junho 12 ─ 1858”) e que o poeta ainda se assinava “Casimiro Abreu”, sem o “de”, que só seria adotado dois ou três meses depois.
Após a morte de Casimiro, uma boa quantidade de seus manuscritos ficou em poder do seu patrão e protetor, Antônio Francisco da Costa Cabral, em cuja casa de Niterói o poeta passava fins de semana e costumava escrever. São dessas ocasiões os poemas que lhe foram inspirados pela filha de Costa Cabral, a pequena Adelaide Augusta, a Yayá, como este “Perfumes e amor” que aqui se vê.
Posteriormente, com a morte de Costa Cabral e de sua esposa, Adelaide Zeferina de Oliveira Cabral, o valioso acervo passou às mãos de seus filhos e descendentes. E foi assim que, por muitos anos, ficou sob a guarda da terceira Adelaide da família, Adelaide da Costa Brandão, a “Sinhá” (filha de Yayá), residente em Vila Isabel.
Ocorreu que em 1949, como a Academia Fluminense de Letras quisesse organizar uma grande exposição sobre Casimiro em desagravo à dura biografia que dele fizera Nilo Bruzzi, “Sinhá” emprestou o precioso acervo ao escritor (Nélson) Lacerda Nogueira, para expô-lo na sede da Academia, em Niterói. Deve-se dizer, a bem da verdade, que Lacerda Nogueira era primo de “Sinhá”, e que a exposição foi de fato realizada, recebendo da imprensa uma grande atenção. Terminada a mostra, porém, o acervo não foi devolvido aos descendentes de Costa Cabral, tendo sido inúteis as tentativas feitas por membros da família visando a tê-lo de volta.
A partir daí, uma série de equívocos levou ao extravio do material emprestado. O único saldo positivo do desastrado episódio foi a publicação de Autógrafos de Casimiro de Abreu, excelente e providencial trabalho de Arnaldo Nunes.
(Publicado em Casimiro de Abreu através de seus manuscritos, uma coedição da Academia Brasileira de Letras com Josephine Edições, Rio de Janeiro, 2013)
Se você tem ou teve parentes em Porto das Caixas, Itaboraí, Cantagalo ou Cordeiro (RJ), se seu bisavô e bisavó se chamavam Francisco e Modesta, ou se seu avô e avó se chamavam Américo e Florinda, por favor, entre em contato conosco.
Se você tem alguma informação sobre eles, por favor, entre em contato conosco. O primeiro, contém o batismo de Casimiro; o segundo, os óbitos dele, de seu pai, de seu tio Claudino, e talvez o do padre Luiz Francisco de Freitas, que batizou o poeta.